Imagine você mergulhar nas nuvens e começar a voar em queda livre, a 250 quilômetros por hora, durante quase 1 minuto. Tente imaginar agora as sensações que seu corpo e mente são submetidos, quantas células, hormônios e neurotransmissores são ativados e alterados nesse “novo estado” a que seu corpo foi submetido. Imaginações à parte, o fato é que o paraquedismo, na minha opinião, causa uma saudável dependência. Tomo a liberdade de afirmar isso a partir de fortes evidências que aqui nesse artigo pretendo demonstrar.
O objetivo do meu Projeto FLY AGAIN! – “Uma nova terapia dos ares” é comprovar, por meio de 100 entrevistas e 500 saltos de paraquedas, os efeitos psicológicos e emocionais da queda livre. Para isso o estudo foi dividido em cinco vertentes principais: stress (1), ansiedade (2), depressão (3), síndrome do pânico (4) e dependência química (5).
As duas primeiras parecem ser mais fáceis de comprovar, os resultados são previsíveis, é muito evidente que essa descarga elétrica, hormonal e neuroquímica da queda livre seja capaz de aliviar o stress e nos deixar menos ansioso e mais relaxado. Tudo isso devido às altas doses de serotonina (responsável pela sensação de prazer), adrenalina, noradrenalina e a acetilcolina liberadas durante a queda livre, fazendo com que o cérebro do indivíduo, com a prática do paraquedismo, “crie uma nova plataforma com áreas responsáveis pelo deslocamento de um grupo de ‘janelas killer’ (ou zonas traumáticas) para um grupo de ‘janelas light’, onde há segurança, sentimento de superação, liberdade, prazer, capacidade crítica de pensar e reciclar os estados psíquicos”, como muito bem disse um dos meus primeiros entrevistados, o escritor e psiquiatra Augusto Cury.
Eu mesmo sou muito ansioso e, provando da minha própria terapia, garanto que por experiências próprias meus níveis de ansiedade caem significativamente após um salto, me deixando mais relaxado, tranqüilo e, ao mesmo tempo, em êxtase emocional e até meio anestesiado.
As outras três vertentes do Projeto FLY AGAIN!, no entanto, são mais complexas e sérias pois envolverão casos clínicos, de consultório, onde a meta será identificar hormônios e outras substâncias (como as que o nosso sábio escritor Augusto Cury relatou) que nosso organismo naturalmente libera quando submetido ao estado de queda livre e que, por consequência, são escassos em indivíduos com depressão, baixa auto-estima, pânicos e etc. Pretendo realizar esses estudos a partir de amostras de sangue colhidas antes e depois dos saltos e até com a utilização de eletrodos colados na cabeça durante a queda livre (para verificar a freqüência e a transição dos neurônios no cérebro, sinapes e outras coisitas mais...)
Nesse momento, no entanto, gostaria apenas de trazer algumas evidências e resultados preliminares de meus estudos para mostrar que a queda livre “vicia positivamente”, provoca uma “saudável dependência” e nos leva a estados alterados de consciência semelhantes às, imagino, sensações que um usuário de drogas tem quando fuma, cheira ou bebe.
Para contextualizar, a idéia do Projeto FLY AGAIN! começou em 2005 com uma reportagem que escrevi para a revista Trip (http://revistatrip.uol.com.br/revista/salada/diva-nas-nuvens.html). Um psiquiatra de Belém do Pará, o Dr. José Paulo de Oliveira Filho, deu os primeiros indícios de que levar pacientes para saltar de paraquedas seria um bom caminho para o tratamento de diversos distúrbios psíquicos, devido principalmente às altas doses de adrenalina envolvidas nos saltos. Como o Dr. Aventura disse na época, é como se o cérebro do paciente fosse um prédio com todas as luzes apagadas e que, quando submetido ao estado de queda livre, esse prédio-cérebro acendesse todas as luzes subitamente, em fração se segundos, o que mexe com a auto-estima e confiança do indivíduo, contribuindo diretamente para sua evolução clínica.
Eis que surgiu a primeira evidência, nessa mesma reportagem falei com um dependente químico que estava conseguindo substituir o “prazer” da cocaína pelas sensações que a queda livre proporciona. Ou melhor, substituiu o vício no pó pelo "vício" na adrenalina dos saltos e virou paraquedista. Segui adiante com minha ideia e, em conversas recentes com paraquedistas experientes em Boituva, venho obtendo relatos de casos maravilhosos a respeito do potencial terapêutico da queda livre. Pessoas que, muitas vezes sem se darem conta, estão usando o esporte em benefício próprio e tendo retornos extremamente positivos. Já me deparei com um instrutor de salto duplo que me confidenciou possuir um caso diagnosticado de síndrome do pânico e que usa seu trabalho aos finais de semana para tentar reduzir os efeitos de tal distúrbio; conheci um colega que teve um caso sério de depressão conjugado com síndrome do pânico e que, após ir ao psiquiatra, começou a tomar remédios e parou de saltar por um curto período. Mas quando começou a se sentir mais confiante voltou ao paraquedismo e sentiu que os efeitos da queda livre estavam sendo mais eficientes do que os efeitos dos remédios. E, com a prática contínua do esporte, ele simplesmente abandonou os remédios para depressão e síndrome do pânico e, nas palavras dele, “hoje não sinto mais nada”. Isso é incrível!
Dia desses, sabendo do meu projeto, uma psicóloga de uma clínica em Moema, na capital paulista, entrou em contato comigo para entender melhor a proposta do FLY AGAIN! e me convidar para uma palestra direcionada a dependentes químicos. A intenção dela é levar alguns pacientes para saltar e, assim, experimentar de que forma a queda livre pode contribuir para o tratamento deles. Um dependente em Crack, talvez por coincidência, relatou na ocasião que a sensação de quando ele fuma uma pedra é semelhante à de saltar de um avião, mas SEM o paraquedas. Esse rapaz nunca saltou de paraquedas e apenas usou sua imaginação para tentar descrever o que sente com a droga. Mas essa não deixa de ser mais uma pequena evidência da possibilidade de substituir o vício de uma droga pelas sensações da queda livre. Isso com a vantagem de que o paraquedismo é hoje um esporte seguro devido às tecnologias de última geração usadas nos equipamentos, que permitem que o praticante faça uma espécie de “salto para a vida”.
Confesso que eu gostaria de ter algum incentivo, seja público ou privado, para poder financiar os saltos duplos de, pelo menos, 10 dependentes químicos que estão abandonados pelas ruas do centro da cidade e, assim, por meio de entrevistas conseguir entender suas experiências com o paraquedismo e pedir que eles comparem as duas sensações. Dia desses eu também, muito injustamente, brinquei no meu Facebook dizendo que a Amy Winehouse foi “Crack” no que fez, sua música levou ao “Ecstasy” milhares de pessoas! Lançou cd, dvd, “LSD”, tudo “Baseado” nos shows! Teve grande “Carreira”... De fato, foi uma grande “Heroína”. Peço desculpas aos fãs da Amy pela brincadeira, mas eu também gostaria muito de, ainda que isso fosse quase impossível, ter convidado a cantora para um salto duplo nos EUA ao som de “Rehab”. Seria o máximo ouvir as impressões pessoais dela.
Enfim, não estou querendo impor aqui nenhum tipo de filosofia, teoria ou ideia sem embasamento técnico-científico. Venho com esse artigo, no entanto, abrir um novo campo de discussões para que pessoas que já saltaram ou ainda saltam de paraquedas possam dividir experiências com o objetivo único de somar novos conhecimentos e descobertas sobre o assunto. No título desse artigo, com o termo “saudável dependência” remeto àquela necessidade de sermos ou estarmos dependentes de coisas boas desta vida e de tudo aquilo que nos dá prazer, como a dependência de passar uma tarde de sol no parque ou na praia com a família, a dependência de assistir a um jogo de futebol e jogar conversa fora com os amigos ou até mesmo a dependência de praticar um esporte que certamente trará benefícios para o corpo, alma e espírito.
Enfim, gostaria de abrir essa discussão através desse Blog, Facebook ou pelo thiago.andre.romero@gmail.com. Para isso, incentivo os leitores desse artigo a responderem duas perguntas no meu e-mail:
- No seu ponto de vista, a queda livre pode causar essa “saudável dependência” a que me refiro? De que forma?
- Você acredita ser possível um dependente químico de drogas leves conseguir substituir gradativamente, sempre com acompanhamento médico e psiquiátrico, o vício das drogas pelo “vício” da queda livre, devido às altas doses de adrenalina e etc.?
Acho que cabe a mim aqui, Thiago Romero, ser o primeiro a tomar uma posição. Na minha opinião, a resposta é SIM para as duas questões. O Projeto FLY AGAIN! também tem uma vertente fortíssima de inclusão social, não apenas quando proponho a levar ansiosos, estressados, depressivos e até dependentes químicos para saltar comigo, mas também porque desejo poder saltar com pessoas com sérias limitações físicas, como paraplégicos e tetraplégicos. Fico imaginando a alegria de uma pessoa ao sair de uma cadeira de roda e tomar coragem para saltar de um avião a 4 mil metros de altura, sabendo que chegará em segurança no solo, talvez com mais segurança do que quando essa mesma pessoa precisa atravessar a rua numa cidade caótica como São Paulo.
Fica aqui lançado o desafio! Além de toda psicologia e emoções envolvidas no Projeto FLY AGAIN!, ele tem uma importante vertente social quando reunimos grupos de pessoas que, como qualquer outro esporte, têm a oportunidade de se conhecerem e fazerem novas amizades durante os saltos em Boituva (SP). Mesmo que com isso estejamos correndo sérios “riscos” de nos tornarmos “dependentes saudáveis” de uma das sensações mais indescritíveis que nosso criador pode nos oferecer. Viva a queda livre!
FLY AGAIN!
Abraços,
Thiago Romero
11 – 7884-8919
thiago.andre.romero@gmail.com